a campanha de marketing para o genocídio

[audiodescrição introdutória em breve]

Fiz outro quadro para vocês. Mas dessa vez é para que a gente possa encenar como o time de marketing para o genocídio. Preste atenção.

Trabalho com marketing, comunicação, essas coisas, há uns 10 anos, e posso afirmar com segurança que estamos sendo submetidos, com esse genocídio, a uma campanha de marketing de primeira classe. Então o que pensei em fazermos juntos é afastar as cortinas para podermos nos ver da forma que eles nos veem, e assim podermos analisar qual seria o pior cenário para eles e como podemos fazer isso juntos. Vamos lá, então.

[mostra um quadro branco com um gráfico de meia pizza dividido em três partes iguais, marcadas como "positivo" (em verde), "neutro" (em preto) e "negativo" (em vermelho)]

Toda boa marca tem isso: você tem que saber quem são seus apoiadores [aponta para "positivo" no quadro], quem não se importa muito com a sua marca [aponta para "neutro"] e quem é contra [aponta para "negativo"]. Então, para a gente, essas ["positivo"] são pessoas a favor do genocídio, essas ["neutro"] são pessoas que, nas palavras de Piers Morgan, acham que "não têm um cavalo na corrida", e essas ["negativo"] são pessoas veementemente contra nós. Agora, toda boa campanha de marketing costuma tentar conquistar essas pessoas [aponta para "neutro"], porque é aqui que está o mercado em potencial, certo? Essas são as pessoas que, se as transformarmos em apoiadoras, ficamos com a maior parcela de mercado.

Esse não é bem o nosso caso. Para seguirmos adiante com esse genocídio, tudo o que a gente precisa é que essas pessoas continuem neutras e assim teremos a maioria [contorna as partes de "neutro" e "positivo" juntas]. Ok? Então, em virtude de dizerem "eu não tenho um cavalo na corrida" e continuarem a dizer isso, estamos vencendo. De novo, como toda boa propaganda de marketing, eu não preciso mirar aqui ["positivo"]; esses vão ficar conosco haja o que houver. Poucos desses, para ser honesta, vão abandonar o barco para cá ["negativo"], mas isso é irrelevante; vamos ter que torcer para que não seja o suficiente para desequilibrar o barco.

Você deve estar se perguntando: "quais são minhas ferramentas para manter essas pessoas neutras?" Essa é uma ótima pergunta. Isso é o que tenho à disposição: tenho cerca de duas décadas e meia de imprensa islamofóbica à qual estiveram submetidas [escreve "imprensa" na parte de "neutro" do quadro], o que é fantástico; tenho construído muitas relações públicas [escreve "RP"], pagando celebridades para tirarem férias aqui, me promovendo como um destino de férias... eu também vou, com essa imprensa, convencê-las de que essa é uma questão complexa [escreve "complexo"]; o que vão fazer é acreditar que o bem moral [escreve "bem"] é continuar em silêncio, e isso é muito importante aqui, porque eu quero que elas acreditem que essa questão é tão inacessível e além da compreensão delas que tomar um partido seria, na verdade, o mal moral, por mais que a história [riso] dirá que não é e só vão precisar ler um livro sobre genocídio para perceber que estão sendo cúmplices, mas vamos torcer para que isso não aconteça. Vamos pagar mais algumas celebridades, influenciadores e tal [escreve "infl."], para dizer que o que estamos fazendo é bom, porque suas vozes vão ser mais altas que as de pessoas que não conhecem, embaixadores e tal. Certo?

[vira o quadro de ponta-cabeça para mostrar uma tabela dividida em duas colunas, "neutro" (em preto) e "negativo" (em vermelho) com três linhas cada]

Vamos dar uma olhada em quem são as pessoas que estamos conseguindo manter neutras; para fazer isso, vamos descobrir quem elas não são. As pessoas que são contra esse genocídio, ruins para nós, né, tendem a ser mais jovens [aponta para a primeira palavra da primeira linha de "negativo"], pessoas que reconhecidamente não assistem muito à mídia mainstream. Isso significa que não consomem muitas notícias mainstream, o que quer dizer que elas não são tão islamofóbicas quanto, digamos, os pais delas, e é por isso que dizemos que nossos pais são problemáticos; o motivo deles falarem coisas problemáticas é o motivo de você não falar. Eles vêm consumindo coisas que você não consome, essa é a verdade; se você começasse a consumir mídia mainstream por anos e anos e anos, você também seria problemático. Então essas pessoas que são negativas a essa campanha também tendem a ser pessoas racializadas [aponta para a segunda palavra da linha] pessoas racializadas porque elas tendem a desconfiar, digamos, do que a mídia mainstream diz sobre elas, porque elas conseguem olhar para as campanhas que estamos fazendo e dizer, "isso não é verdade". Então, em virtude de serem pessoas mais jovens e racializadas, elas tendem a não ter muito dinheiro [aponta para a segunda linha, "$-$$"]. O que isso significa é que elas não têm cargos de chefia no trabalho, tendem a não ter empresas próprias e tendem a não ter estado no país que estão tempo suficiente para terem acumulado muito poder [aponta para a terceira linha, "poder -"]. Isso falando no geral, né; estamos nos concentrando na pessoa média.

Então quem são as pessoas que estão ficando neutras? Vamos ver. Elas tendem a ser mais velhas [aponta para a primeira palavra da primeira linha de "neutro"]; de novo, o motivo de serem neutras e o motivo de serem mais velhas estão ligados. O motivo de serem ambos é porque elas vêm consumindo muita mídia mainstream; elas só tiveram que aceitar a islamofobia [riso] por todos esses anos. Por serem pessoas mais velhas e brancas [segunda palavra da primeira linha], elas tendem a ter um pouco mais de dinheiro [aponta para a segunda linha, "$$-$$$"], e, portanto, a ter um pouco mais de poder [terceira linha, "poder +"], seja por estarem em suas posições por mais tempo, seja por terem uma empresa, porque estão aí há mais tempo, então só querem trabalhar para si mesmas, coisa e tal. Elas tendem a ter um pouco mais de "influência" na sociedade. Então são essas as pessoas que precisamos que fiquem neutras. Ok?

[desvira o quadro de volta para o gráfico de meia pizza]

Nosso pior cenário de marketing para esse genocídio são essas pessoas [aponta para "neutro"] perceberem que estão sendo cúmplices de um genocídio com sua neutralidade. O momento que elas entenderem que, na verdade, não é o bem moral ficar em silêncio, é o momento que começamos a perder essa parcela de mercado. O jeito que isso pode acontecer é se as pessoas que estão aqui ["positivo"] começarem a fazer com que seus influenciadores cheguem a essas pessoas em específico ["neutro"] e digam, "meus amigos, provavelmente está na hora de acordar". O motivo pelo qual isso seria um prejuízo é o simples fato de essas pessoas participarem de um boicote, pois, por causa do tanto de dinheiro que elas têm, eu teria muito do meu financiamento cortado. O momento em que essas pessoas começarem a dizer a pessoas com quem trabalham, porque elas têm segurança para fazer isso, que não tem problema apoiar a Palestina, e outras pessoas começarem a apoiar a Palestina, porque elas têm essa influência, é o momento em que começamos a perder espaço no mercado. O momento em que essas pessoas acordarem para o fato de que, historicamente, a consciência delas não vai estar limpa daqui a 10 anos e que estão caindo de novo no [riso] velho truque do genocídio, é aí que começamos a perder espaço no mercado.