Ideias capacitistas que pessoas autistas podem internalizar sobre si mesmas
- original: @neurodivergent_lou/Louise Chandler (postagem no instagram), set./2023
- tradutista: instagram, ago./2024
*itálico e/ou [entre colchetes] = audiodescrição/legenda descritiva e/ou notas de tradução
[A autora fala em primeira pessoa e usa exemplos de sua própria experiência como pessoa autista, por isso a linguagem do texto está no feminino.]
"Eu não consigo me comunicar direito / o jeito que me comunico não é bom o suficiente"
Eu tinha tantos pensamentos na minha cabeça mas não conseguia externalizá-los da forma como gostaria quando eu tentava me comunicar. Às vezes me acusavam de ser curta e grossa com as pessoas quando, na verdade, eu só estava tentando ser clara e direta.
Acho que tá tudo bem reconhecer que tenho dificuldade para me comunicar, mas também preciso lembrar que a comunicação é uma via de mão dupla e que a outra pessoa tem a mesma responsabilidade.
"Eu deveria conseguir me controlar"
Antes de saber que era autista, eu achava que deveria ser capaz de controlar meus meltdowns e shutdowns (crises de sobrecarga), mesmo que eu realmente não conseguisse. Eu sentia que deveria conseguir suprimir minhas estereotipias.
Isso era parte do que a sociedade me dizia sobre como eu deveria agir – suprimir as coisas e ficar quieta. Agora percebo que essas coisas não eram falhas de personalidade ou algo que eu "deveria conseguir controlar". É muito mais complicado do que eu pensava inicialmente e eu tive que aprender a ser mais gentil comigo mesma.
"Eu sou preguiçosa demais"
Eu costumava pensar que o motivo pelo qual eu não conseguia resolver as coisas era preguiça. Essa era uma narrativa que eu havia internalizado da sociedade, mas não é a realidade.
Na verdade, eu estava sofrendo com meu funcionamento executivo e ansiedade. Eu tinha dificuldade em identificar as etapas das tarefas e iniciá-las exigia muito esforço, mesmo quando eu queria desesperadamente fazê-las.
"Eu sou carente demais"
Com frequência me diziam que minhas necessidades eram grandes demais, seja porque eu fazia muitas perguntas ou porque pedia ajustes razoáveis.
Agora percebo que, embora ainda seja uma batalha enorme, não sou "demais", seja lá o que isso significa. Parte disso foi reconhecer que existo em um mundo que essencialmente não foi feito para mim. Estou dando o meu melhor e minha identidade é válida.
"Eu sou uma pessoa neurotípica quebrada"
Quando fui identificada como autista pela primeira vez, eu genuinamente me senti como uma versão quebrada de uma pessoa não autista. Isso me magoou de verdade.
Ser autista me fez sentir como se as outras pessoas estivessem classificando minha vida como “inferior” e “não tão digna”. E embora eu não me sinta assim agora, somos ensinados que pessoas como eu são automaticamente inferiores. Aos poucos estou aprendendo a reconhecer minha identidade e a me valorizar pelo que sou.
"Eu não faço nada direito"
Eu sentia que nada do que eu fazia estava certo ou era bom o suficiente, não importava o quanto eu tentasse. Acabei internalizando esse sentimento. Ver outras pessoas conquistando coisas com muito mais facilidade que eu me deixava muito confusa.